Como vimos na primeira postagem Quem foi Lewis Carroll? Charles Ludwidge Dodgson se formou em matemática e lógica e se destacou a tal ponto de começar a lecionar com apenas 23 anos. Ele chegou inclusive a escrever livros sobre isso. Sabemos que essa área na qual nosso escritor ingressa e demonstra muita competência é totalmente pautada na razão, no racionalismo, mas quando ele escreve seus livros de histórias infantis que incluem sua obra prima Aventuras de Alice no País das Maravilhas ele assume o pseudônimo Lewis Carroll que parece se contrapor a esse racionalismo, se voltando ao non-sense que não só permeia, mas caracteriza a obra em questão.
Segundo a pesquisadora Sandra Vasconcelos, no livro Aventuras de Alice no País das Maravilhas, Carroll coloca em confronto o mundo da lógica e o mundo do non-sense, o que segundo ela, está diretamente ligado à própria figura de Dodgson que incluía ao mesmo tempo a seriedade e a circunspeção do professor de lógica e matemática de uma universidade inglesa renomada e de um homem que tinha uma ligação com o mundo da igreja anglicana, e, ao mesmo tempo, tinha uma personalidade literária, na verdade, desde criança ele já vinha explorando o mundo no non-sense e da literatura, mas segundo a mesma pesquisadora essa personalidade literária dele se configura realmente quando, no dia 4 de julho de 1862, ele conta a história de Alice para as irmãs Liddel, aqui ele se transforma em Lewis Carroll um homem que andava com a cabeça cheia de histórias e enigmas voltados para o mundo da fantasia no qual há uma outra lógica que se contrapõe ao mundo racional, a esse mundo cheio de regras e hierarquias, a realidade onde ele vivia.
Com isso falemos um pouco mais sobre o non-sense, uma linguagem que surgiu no século XIX e que se funda na ideia de brincadeira com os sentidos das palavras, exercendo obediência paradigmática e gramatical, o que torna ilógico o funcionamento interno da história. De difícil definição, o conceito dessa linguagem provoca diversas opiniões. Podemos dizer que a palavra em si mesma surgiu da expressão em inglês no+sense, que significa literalmente “não-sentido”. Ou seja, non-sense suporia um esvaziamento de sentido, uma negação de sentido, ou ainda uma inexistência de sentido. A partir do ponto de vista segundo o qual o sem-sentido aparece na história, Myriam Ávila afirma que a especificidade do non-sense “reside em algo que deixa o leitor suspenso entre o riso e a perplexidade, entre a estranheza e a identificação, como se aquilo ao mesmo tempo lhe dissesse respeito e não dissesse respeito a coisa alguma” (ÁVILA, 1996, p. 203), e que “é precisamente a ausência de um ponto de repouso, a instabilidade e a instauração da dúvida que constituem o núcleo do nonsense” (ÁVILA, 1996, p. 86).
Segundo a pesquisadora Sandra Vasconcelos, no livro Aventuras de Alice no País das Maravilhas, Carroll coloca em confronto o mundo da lógica e o mundo do non-sense, o que segundo ela, está diretamente ligado à própria figura de Dodgson que incluía ao mesmo tempo a seriedade e a circunspeção do professor de lógica e matemática de uma universidade inglesa renomada e de um homem que tinha uma ligação com o mundo da igreja anglicana, e, ao mesmo tempo, tinha uma personalidade literária, na verdade, desde criança ele já vinha explorando o mundo no non-sense e da literatura, mas segundo a mesma pesquisadora essa personalidade literária dele se configura realmente quando, no dia 4 de julho de 1862, ele conta a história de Alice para as irmãs Liddel, aqui ele se transforma em Lewis Carroll um homem que andava com a cabeça cheia de histórias e enigmas voltados para o mundo da fantasia no qual há uma outra lógica que se contrapõe ao mundo racional, a esse mundo cheio de regras e hierarquias, a realidade onde ele vivia.
Com isso falemos um pouco mais sobre o non-sense, uma linguagem que surgiu no século XIX e que se funda na ideia de brincadeira com os sentidos das palavras, exercendo obediência paradigmática e gramatical, o que torna ilógico o funcionamento interno da história. De difícil definição, o conceito dessa linguagem provoca diversas opiniões. Podemos dizer que a palavra em si mesma surgiu da expressão em inglês no+sense, que significa literalmente “não-sentido”. Ou seja, non-sense suporia um esvaziamento de sentido, uma negação de sentido, ou ainda uma inexistência de sentido. A partir do ponto de vista segundo o qual o sem-sentido aparece na história, Myriam Ávila afirma que a especificidade do non-sense “reside em algo que deixa o leitor suspenso entre o riso e a perplexidade, entre a estranheza e a identificação, como se aquilo ao mesmo tempo lhe dissesse respeito e não dissesse respeito a coisa alguma” (ÁVILA, 1996, p. 203), e que “é precisamente a ausência de um ponto de repouso, a instabilidade e a instauração da dúvida que constituem o núcleo do nonsense” (ÁVILA, 1996, p. 86).
Levando em consideração o nonsense, Cecília Meirelles fala sobre um tipo especial de leitores: os leitores híbridos, crianças-adultos e adultos-crianças. Estes leitores, contrariam a suposição segundo a qual as crianças não possuem capacidade poética de interpretar leituras que fogem da realidade. Esses leitores são atraídos pela leitura de Carroll, que se desvia, em Alice no País das Maravilhas, da ligação com o sentido (MEIRELES, 1984, p. 113). Davi Arrigucci parece concordar, e diz que “não parece boa política, quando se quer valorizar as Alices de Lewis Carroll, encará-las como leitura para adultos. Também não seria conveniente inverter o equívoco e vê-las como leitura para crianças. Esticar e encolher são possibilidades nada desprezíveis de Alice. Grandes e pequenos compreenderão seu significado em dimensões diversas” (ARRIGUCCI apud MEIRELES, 1984, p. 141).
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Ilustração de John Tennie |
Na história, o mundo de Alice é guiado por regras que ela não conhece, que não são compatíveis com o que ela conhece como realidade. A história narra em seu início que Alice estava muito cansada, e que não havia nada a fazer. O livro da irmã sentada ao seu lado não interessava, pois “de que serve um livro sem figuras e sem diálogos?”, indaga. Neste momento, passa por ela um coelho branco de olhos cor-de-rosa vestindo um colete, olhando para um relógio e reclamando de estar muito atrasado. Alice decide seguir este coelho estranho, e acaba numa toca que é um grande buraco. Se instaura o sem-sentido. E segue desta forma, como observa Natália Thomaz:
"Durante a história, ela fica tão grande que não cabe em uma casa, tão pequena que teme sumir como a chama de uma vela, duvida da própria identidade e tem dificuldade para se comunicar com as criaturas que encontra. As situações inusitadas vividas pela menina provocam sensações conflitantes, o leitor fica aflito e se sente deslocado ao mesmo tempo em que acha graça no que acontece. A escrita nonsense provoca dicotomia, ao desconstruir a lógica a qual o leitor está acostumado por meio de jogos com a linguagem e com significados. Ela cativa pelo sarcasmo misturado ao cômico, que faz com que disparates soem de maneira graciosa. Os jogos de palavras remetem a ingenuidade infantil e aos conteúdos de sonhos; uma brincadeira que leva o leitor a sorrir pelo canto da boca e sentir-se desconfortável ao mesmo tempo. Provavelmente por essa linguagem lúdica, o nonsense atrai tanto crianças quando adultos. Em uma época em que os livros infantis seguiam uma tendência doutrinária, o livro de Lewis Carroll rompe, desafia." (THOMAZ, 2012, p. 12)
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Ilustração de John Tenniel numa versão do livro traduzida para o português |
O nonsense também se modifica a partir das ilustrações (ou de sua ausência)trazidas pelas diversas edições do livro; à medida que estas [as ilustrações] sugerem ao leitor maior ou menor sensação de desconforto, que é típica do nonsense. Também se trata de uma quebra de limites, um olhar além/através do esperado, do normal. É um jogo de criar expectativas apenas para subvertê-las, uma descostura fio a fio que, aliada ao paradoxo, chega ao extraordinário.
Carroll constrói charadas, jogos de lógica, “cria brincadeiras” ao longo de sua narrativa. Sua obra, porém, não é de todo sem sentido, uma vez que é construída com base em referências literárias, matemáticas e científicas. Tendo em conta que o autor escreveu em um período em que a literatura na Inglaterra possuía fins educativos, uma literatura pedagógica, com o nonsense presente em sua obra ele consegue libertar as crianças desse regime dos bons costumes, questionando os saberes e colocando o outro como a ordem do sem sentido. (RADAELLI, 2012).
Ao tomar como base as referências presentes na obra, o nonsense na verdade vai ganhando sentido, sentido que talvez apenas determinados públicos pudessem compreender (como por exemplo, britânicos, devido a infinidade de versos e trocadilhos de poemas ingleses, que Carroll coloca em sua obra )ao ler a obra em determinado contexto histórico (a Inglaterra Vitoriana). Segundo Leite
“[...] parecendo, a uma visão superficial, fantasias arbitrárias, são, na verdade, referenciados a uma realidade vivida ou pensada pelo autor, desde o plano concreto da realidade biográfica, histórica, linguística etc., até o plano mais abstrato das discussões científicas e das especulações lógico-semânticas” (LEITE, 1980, p. 16 apud RADAELLI, 2012, p. 53).
Segundo Radaelli
“ Por intermédio de sua personagem, Alice, Lewis Carroll questiona o saber universalizante e nos mostra [...] a loucura da identificação, a equivocidade da linguagem e a falta de sentido do real, [...] , o nonsense torna-se a condição para que a criação aconteça, pois ele não comporta o efeito de censura, mas libera o desejo das armarras imposta pela lógica do imaginário e do simbólico.” (RADAELLI, 2012, p. 65).
Com sua obra “Lewis Carroll nos ensina a não recuar diante do real” (RADAELLI, 2012, p.162)
Referências Bibliográficas
MEIRELES, Cecília. Problemas da Literatura Infantil. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1984.
RADAELLI, Juliana, O nonsense no País das Maravilhas: o que Alice ensina à educação. Universidade de São Paulo - São Paulo, 2012.
THOMAZ, Nathália. Alice em Metamorfose. Universidade de São Paulo - São Paulo, 2012.
Vídeo Literatura Fundamental 80 - Alice - Lewis Carroll - Sandra Vasconcelos. Disponível em
https://www.youtube.com/watch?v=zSAyjwWT384
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